terça-feira, 27 de outubro de 2009

ALÉM DO RIO


Quantos forem os pensamentos dos homens, tantas serão as conjecturas e os conceitos que se farão acerca da vida futura. Mas que descrição podemos fazer da eternidade? Poderemos, ao menos em parte, revelar o mistério que envolve a vida além do Rio, estado que os nossos olhos não podem contemplar nem a nossa mente conceber ?


Como vivem os nossos queridos que já se foram? — perguntam uns —, viverão conscientes e em pleno gozo? — indagam outros. Para uns a eternidade é um estado não definido; é, apenas, uma obra em período de exe¬cução. Para outros a eternidade é alguma coisa terrível e amedrontadora, é um estado de pavor no qual se espera a todo o momento ser julgado e condenado. Há os que concebem a vida além do Rio um perfeito caos, o reino da confusão e da desordem; poucos são os que concebem a vida no além com os encantos que realmente tem para os que já entraram nos domínios da fé.


O homem tem caprichos como as crianças; é curioso é irreverente; tudo quer saber, tudo indaga e perscruta, quer seja lícito ou não. Entra por terrenos estranhos, ultrapassa os limites naturais do pensamento, embara¬ça-se no fio mais frágil e tênue da razão, não tanto pelo desejo de se educar e elevar nas questões espirituais dos domínios da fé, mas simplesmente por diletantismo e es¬peculação filosófica, e por essas razões não vê luz onde há luz, não vê Deus onde Deus está.


Centenas e milhares de vezes, durante esta vida. o homem lança ao ar esta pergunta: Que haverá além do Rio? Como será a vida na eternidade? Que me espera no Além? Ali a vida será melhor do que aquém do Rio? Enquanto a pergunta encerrar especulação e sofisma, se não envolver um desejo sincero de acertar, e se não houver um propósito elevado de conhecer a revelação de Deus no que diz respeito à vida, o homem continuará atormentado pela dúvida acerca do futuro.


Deus é infinitamente sábio. No mistério da vida acerca da eternidade manifesta essa sabedoria, conser¬vando o homem nessa espectativa, impedindo, assim, que o mortal se, ensoberbeça, considenrando-se onisciente e caia de sua soberba.


Todas as investidas do homem sem Deus no sentido de penetrar na vida além do Rio, resultarão em fracasso. Todas as perguntas estultas fantasiando as perspectivas do futuro, ficarão, para sempre, sem respostas. As in¬terrogações idealizadas não serão satisfeitas. Deus não autorizou homem algum a revelar as condições exatas da vida além do Rio. Entretanto, para aqueles que amam e servem a Deus, os horizontes não aparecem carregados de mistérios; eles não perdem o sono por causa de espe¬culações irregulares. Os salvos não se impacientam por desconhecerem os mistérios da eternidade, em virtude de saberem que um dia o véu será retirado, e todas as belezas agora ocultas serão reveladas. Mas isto acontecerá quando os planos de Deus estiverem cumpridos, e não quando a nossa curiosidade quiser especular.


O mais acertado e mais prudente nesta vida é estar em Cristo (dentro do Reino), em vez de viver inquietos e embaraçados com indiscreções acerca do futuro. O Es¬pírito Santo revela aos salvos o necessário, mas só o ne¬cessário para robustecer a fé, e descansar na graça, cuja plenitude alcançarão quando chegarem aos domínios da fé.


Loucura, a mente humana ambicionar descrever as coisas eternas. Os seres e as coisas celestes são designa¬dos por nomes celestes e só podem ser descritos nessa ordem, por quem os conheça e na linguagem do céu. Como admitir tão estulta pretensão de homens que não temem a Deus, que não têm o Espírito Santo e desco¬nhecem a linguagem celestial?


Nesta vida é suficiente saber que somos salvos; sen¬tir que estamos perdoados; constatar que pertencemos a.Cristo e verificar que a graça de Deus está em nós. Estas coisas são o penhor de uma vida feliz e plena de bem-aventuranças além do Rio.


Apesar de todas as restrições impostas pela maté¬ria, ainda assim, os salvos gozam um privilégio que os descrentes não têm. O Espírito Santo, à medida que os salvos crescem na graça, vai revelando as belezas que adornam as terras além dó Rio, onde o amor é a nota do¬minante da sinfonia da vida que se goza ali.


A fé afirma que são muitas as maravilhas que nos esperam além do Rio, mas como poderei descrever as belezas da nova terra e do novo céu onde habita a Jus¬tiça? Com que expressões posso referir-me à Cidade de Deus, construída das mais caras, e finíssimas pérolas numa harmoniosa combinação de pedras raras e precio¬sas? Que direi das ruas calçadas de ouro do mais fino quilate, polido em alto grau? Como classificar o brilho do sol da Justiça, refletindo sobre tanta riqueza, numa cintilação mágica de harmonia e cores? Como pode a mente humana apreciar as majestosos palácios que a sa¬bedoria de Deus fêz levantar para deleite dos santos e glória de Jeová? Qual o homem que avaliará devidamente a brisa doce e acariciadora que perpassa pelas regiões ce¬lestiais tonificando e dando vida de Deus a todo o am¬biente? Quem já atravessou os imensos e verdejantes prados que se estendem em todas as direções da terra prometida, num perene convite a alongar a vista pelo país de Beulá? Onde e como classificar os jardins em que viçam os lírios mais alvos, mais raros e mais puros que olhos humanos jamais avistaram? Não poderei, ain¬da que o queira fazer, dar-vos a noção exata da atmos¬fera festiva da cidade do Senhor, .pois o canto das aves confunde-se, sem representar dissonância, com o louvor dos remidos pelo Cordeiro, numa sinfonia perene que inspira e arrebata.


O futuro com Deus pertence aos domínios da fé,e só a fé pode descrever estas e outras bênçãos que os sal¬vos por Cristo gozarão no término da jornada terrestre. Para aqueles que atravessaram, vitoriosas, o vale da sombra da morte, despontará a manhã da grande ressur¬reição que revelará aos salvos toda a glória que os céus reúnem para louvor do nosso Deus.


"Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida''.

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